Certamente, não há um tema tão cercado de mal-entendidos quanto o eixo central da fé cristã, isto é, a fé na ressurreição. Alguns podem até considerar essa verdade como apenas mais um milagre de Jesus, exceto sendo verdadeiramente cristão, pois “a ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal” (Catecismo da Igreja Católica, n. 638). Se tirarmos esse evento do conteúdo de nosso Credo, provavelmente seríamos ligeiramente confundidos com qualquer outra entidade caritativa ou mesmo com uma ONG organizada e bem intencionada. Em suma, São Paulo Apóstolo foi taxativo: “se não há ressurreição dos mortos, ilusória é a vossa fé” (1Cor 15,17).
Mas a dificuldade de processá-la é, até certo ponto, compreensível. Isso também ocorreu com os discípulos e discípulas do Mestre. O próprio apóstolo Paulo sentiu na pele a dificuldade de fazer entender seu anúncio, desde seus correligionários aos filósofos gregos, como ocorreu no areópago de Atenas, onde após ouvirem um elaborado discurso, os atenienses concluem: “parece um pregador de divindades estrangeiras” (At 17,18). A doutrina paulina lhes parecia coisa estranha e de difícil assimilação (At 17,20). Outro fator que dificulta hoje a reflexão deve-se ao atraso da Igreja em aprofundar a temática, é o que acredita o teólogo redentorista francês François-Xavier Durrwell (1912-2005).
Por muito tempo, a teologia católica acabou dissertando apologeticamente o tema da redenção, ou seja, insistindo em seu caráter de reparação, mérito e satisfação da vida e da morte, tudo isso sem fazer menção ao profundo mistério da ressurreição e, quando a mencionava, apenas situava-a no mistério pascal e ponto. Poderia causar impressão de que a obra salvífica de Cristo partia da encarnação e empancava na Sexta-feira Santa, constituindo uma “falta lamentável que iria empobrecer a teologia da redenção” (DURRWELL, 1969, p. 1). Já o lado oriental e ortodoxo da fé cristã jamais perdeu de vista esses valores espirituais essenciais.
Já no mundo judaico havia aqueles que estavam abertos à fé na ressurreição, uma ideia presente no Antigo Testamento, embora tardia (Dn 12,2-3 e 2Mc 7,9), mas que foi sendo amadurecida com o passar do tempo, sobretudo em torno dos séculos III/II a.C, pois o Senhor é o Deus Vivo e da vida, vencedor da transitoriedade humana, exemplo é o arrebatamento de Elias e Henoc. Nesse ponto, não havia polêmica entre Jesus e os fariseus, pois a ressurreição seria cumprimento de profecias: “eis que abrirei os vossos túmulos e vos farei subir de vossos túmulos, ó meu povo” (Ez 37,12. Ver também 1Rs 17,22).
Por uma outra vereda iam os saduceus, que rejeitavam a ideia (At 23,8). Outras referências utilizadas e reinterpretadas pelo próprio Jesus sobre o tema são o “sinal de Jonas”: três dias no estômago do monstro marinho (Jn 2,1) seriam os três dias de Cristo no seio da terra, revivendo ao terceiro dia, e a serpente de bronze levantada por Moisés no deserto (Nm 21), sinal de sua crucifixão e glorificação. As naturezas humana e divina de Jesus são asseguradas e preservadas com o simbolismo do jardim e dos Anjos que o guardam, remetendo ao Éden e à Arca da Aliança. Compare os detalhes de João 20,11-12 com Gn 3,24 e Ex 25,18-22.
Traremos primeiramente uma questão acerca de termos. O verbo hebraico gaʼál ou go’el (גֹּאֵל), que aparece pela primeira vez em Gênesis 48,16, significa recuperar, resgatar ou remir, podendo ser aplicado à pessoa, propriedade ou herança. Esta ideia parece melhor esclarecer o sentido da atividade de Deus para com a salvação do homem. Chegando ao Novo Testamento, indo mais diretamente ao ponto, a palavra ressurreição em grego é anástasis (άνάστασις), que comumente se associa à outra expressão: egeíro (ἐγείρω), que significa levantar de. Um exemplo do uso está no relato da “ressurreição” da filha de Jairo, correspondendo à expressão aramaica que Jesus pronunciou: “Tomando a mão da criança, disse-lhe: ‘Talitha kum‘ – o que significa: ‘Menina, eu te digo, levanta-te’” (Mc 5,41).
Observamos também que um grande número de textos referentes à ressurreição encontra-se na voz passiva. Exemplo: “quando eu for elevado da terra” (Jo 12,32); “foi elevado à vista deles” (At 1,9; Lc 24,50); “mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias da morte” (At 2,24); “a este Jesus, Deus o ressuscitou” (At 2,32); “o Deus de nossos pais glorificou seu servo Jesus” (At 3, 13); “por isso Deus soberanamente o elevou” (Fl 2,9); “vós crestes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória” (1Pd 1,21), e assim sucessivamente. O Novo Testamento quer nos dizer que ressurreição é um passivo teológico, obra de Deus através de seu Espírito em Cristo, ou seja, uma celebração trinitária. Não se trata de recompensa pela nossa boa conduta ou de uma realidade “automática”, é preciso deixar Deus fazer acontecer sua obra em nós, permitirmos sofrer esta ação de seu poder recriador. É pura gratuidade e solidariedade divinas.
Outro detalhe está na harmonização entre a transcendência e historicidade do ocorrido. Antes da ressurreição de Jesus, sua presença era geralmente descrita com a expressão “estava com eles” (Jo 1,35) mas, após sua páscoa, os termos tornam-se enigmáticos: “apareceu”, “pôs-se no meio” (Jo 20,14.19), “apresentou-se” (Lc 24,36) e “manifestou-se” (Jo 21,1.14), ambos tentando exprimir a ideia de aparição. O famoso relato dos dois discípulos de Emaús deixa claro que Jesus ficou invisível diante deles (Lc 24,31) e, sua primeira aparição pública no meio dos discípulos, deixa escapar que o mesmo conseguiu aparecer no meio deles às portas fechadas (Jo 20,19). Tratava-se do mesmo Jesus que conviveu com eles, porém, não foi reconhecido de uma vez, como na primeira aparição à Maria Madalena, onde foi confundido com um jardineiro (Jo 20,15). Assim também se deu com os discípulos de Emaús, que pareciam ter escamas nos olhos (Lc 24,16); isso também gerou descrença no velho Tomé (Jo 20,24-29) e, e no mar de Tiberíades, “os discípulos não sabiam que era Jesus” (Jo 21,4).
Em Lucas e João, Jesus só é reconhecido após uma palavra ou sinal, pois ele tinha obtido um corpo glorioso, isto é, transformado em um estado que modificou sua forma exterior, libertando-o das condições sensíveis desse mundo, por isso alguns dos seus continuavam duvidando (Mt 28,17). Não se estranhe quando, no tempo pascal, a liturgia incluir, em um dos domingos, o evangelho do Bom Pastor, isso se deve ao fato de que “as ovelhas ouvem a sua voz e ele chama suas ovelhas uma por uma (…), pois conhecem a sua voz” (Jo 10,3-4). Jesus é reconhecido pela sua palavra e por seu típico gesto de cear com os seus (Lc 24,30-43; Jo 21,9-10). A Igreja vê aqui o nexo indissolúvel entre a mesa da palavra e a do pão eucarístico:
Palavra e Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem ser compreendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus faz-Se carne, sacramentalmente, no evento eucarístico. A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e explica o Mistério eucarístico. Com efeito, sem o reconhecimento da presença real do Senhor na Eucaristia, permanece incompleta a compreensão da Escritura. Por isso, à palavra de Deus e ao mistério eucarístico a Igreja tributou e quis e estabeleceu que, sempre e em todo o lugar, se tributasse a mesma veneração embora não o mesmo culto.
(Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini, n. 55).
São Paulo tenta explicar a realidade da ressurreição utilizando a linguagem simbólica da semente jogada ao solo que desaparece e se torna árvore, e afirma que Cristo é primícia (o primogênito) e causa da ressurreição dos mortos (1Cor 15,20-28; Cl 1,18), o que vale dizer que todos os relatos de “ressurreição” operados por Jesus antes da sua como o da filha de Jairo, (Mc 5), do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) e de seu amigo Lázaro (Jo 11), devem ser compreendidos como “ressuscitações” ou sinais daquilo que estaria por vir, pois ambos morreram em seguida, e é somente pela morte e ressurreição do Senhor que todos herdaremos a vida em plenitude. Santo Agostinho, em seu Sermão de número 98, comparou os referidos casos com três tipos de pecadores que precisam ser ressuscitados pelo Senhor. Para aprofundar sobre, clique aqui.
São João Evangelista evita falar de milagre, antes prefere o termo “sinal” (ex.: Jo 2,11), pois considera a morte e ressurreição do Senhor como O milagre por excelência, realizado na “hora” de Jesus, enquanto que, para Marcos, a glorificação de Cristo já se dá na hora de sua elevação na Cruz, revelando ali seu messianismo, sua filiação divina e uma verdadeira teofania com o rasgar das cortinas do santuário e a confissão de um pagão, o centurião romano: “verdadeiramente este homem era Filho de Deus!” (Mc 15,39), aqui “revelando-se, ao mesmo tempo, Sacerdote, altar e cordeiro” (Prefácio IV do Tempo Pascal).
Dito isso, trazemos agora outro grande problema levantado pela mente moderna, que está voltado à materialidade, mais precisamente ao corpo de Jesus ou ainda, como tudo isso se deu ou se dará. O túmulo vazio testemunha, mas não é o suficiente para provar a ressurreição. Qualquer um poderia supor que os guardas ou alguém tivesse tirado o corpo de Jesus do jardim onde foi sepultado, a própria Maria Madalena o supôs num primeiro momento (Jo 20,2).
A perspectiva antropológica mais influente que temos até hoje sobre a definição do ser humano veio da filosofia grega, onde se concebe uma visão dualista, ou seja, composição de alma – psyché (ψυχή) versus corpo – soma (σώμα). Por ocasião da vida, a alma imortal se une ao corpo corruptível, numa eterna luta pela libertação um do outro até que chegue a morte, daí a afirmação de Platão de o corpo ser cárcere da alma, é como se a alma fosse o passarinho dentro de uma gaiola ansiando a liberdade. Já a Bíblia nos apresenta uma visão unitária do ser humano, um tanto diferente das categorias ocidentais. Para a mente do homem bíblico não há dualidade, mas unidade entre quatro dimensões distintas e inseparáveis: carne – basar (בָּשַׂר), alma – nefesh (נֶפֶשׁ), espírito – ruach (רוּחַ) e coração – lev (לֵב). Portanto, não foi a “alma” de Jesus que ressuscitou, mas o seu ser inteiro, todas as suas dimensões: “e que vosso ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5,23). Mas ao que parece, temos ainda uma visão pessimista de nossa corporalidade, um pensamento pagão, por sinal, que já gerou e continua gerando muitas controvérsias, ainda mais no tocante à sexualidade humana, o que para o Papa Bento XVI muito tem que ser repensado e novamente comunicado:
A Queda não é a última palavra sobre o corpo na história da salvação. Deus oferece ao homem também um caminho de redenção do corpo, cuja linguagem é preservada na família. (…) Se, depois da Queda, Eva recebe este nome, Mãe dos vivos, isto testemunha que a força do pecado não consegue cancelar a linguagem originária do corpo…
(BENTO XVI em L’Osservatore Romano, jul. 2011).
O termo grego para “carne” é sarx (σάρξ), que difere, mas pode ou não estar associado a soma (corpo). Ele comumente está empregado para falar da fragilidade e transitoriedade da vida humana. Seu uso no Novo Testamento remete mais à corruptibilidade ou concupiscência provocada pela oposição à vida espiritual (cf. Rm 8). Portanto, faz-se muito indispensável se atentar à sua utilização para evitar mal-entendidos. São Paulo não é pessimista quanto ao corpo, bem pelo contrário, chega a afirmar o seguinte sobre os maus tratos que sofreu: “trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gl 6,17), sinal que o mesmo considerava superior àquele feito na circuncisão.
A redenção do corpo está no centro da fé cristã, o Verbo se encarnou (Jo 1,14), se fez corpo, e Jesus, mesmo ressuscitado, quis permanecer com os sinais de nossa humanidade, isto é, com as marcas da paixão (Jo 20,27), por isso, ao se encarnar, ressuscitar e subir aos Céus, justificou toda carne. Como o corpo pode retornar à vida não o sabemos, mas são Paulo defende a existência de corpos animal, celeste, psíquico e espiritual (1Cor 15,35-53). Dessa maneira não há sentido cristão, por exemplo, em rezar “pela alma” de nossos falecidos, rejeitando o corpo, mas sim rezar pela páscoa da pessoa inteira, pois essa materialidade, ou seja, sua historicidade e fragilidade, são transformadas como as de Cristo na vida eterna. Rejeitando o corpo, transformamos Jesus em “fantasma” e colocamos nossa fé sob distúrbios, numa perspectiva desencarnada. A prova mais cabal da ressurreição parece ser a disposição dos discípulos de Cristo ao martírio, mais que a preocupação [moderna] com a matéria, pois assumiram essa verdade de fé até a morte.
Há testemunhos históricos fora do ambiente cristão sobre Cristo e sua ressurreição, o mais famoso remete-se ao historiador judeu Flávio Josefo (95 d.C.) em dois fragmentos disponíveis em grego e árabe, sofrendo esta última versão pequenas omissões. Abaixo expomos a tradução da versão grega. Pelas palavras, dá até para supor certa simpatia com os cristãos:
Naquela época vivia Jesus, homem sábio, se é que o podemos chamar de homem. Ele realizava obras extraordinárias, ensinava aqueles que recebiam a verdade com alegria e fez-se seguir por muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. E quando Pilatos o condenou à cruz, por denúncia dos maiorais da nossa nação, aqueles que o amaram antes continuaram a manter a afeição por ele. Assim, ao terceiro dia, ele apareceu novamente vivo para eles, conforme fora anunciado pelos divinos profetas e, a seu respeito, muitas coisas maravilhosas aconteceram. Até a presente data subsiste o grupo dos cristãos, assim denominado por causa dele.
(Flávio Josefo em “Antiguidades Judaicas”, 18,3,3 § 63 e 64).
Um dos grandes teólogos de nosso tempo a aprofundar com afinco o tema da ressurreição foi o padre Durrwell, citado no início, sobretudo a partir dos anos 1950 com contribuições indispensáveis para uma compreensão mais madura. Para aprofundar o tema recomendamos a leitura de “A Ressurreição de Jesus” (Herder, 1969). De antemão, quatro aspectos não podem ser omitidos, o que nos serve como tentativa de resumo desta nossa humilde reflexão ante um mistério tão profundo:
Segundo Durrwell podemos aproximar-nos do Mistério da Ressurreição de Jesus por quatro abordagens: a Ressurreição como inauguração da Salvação e realização das promessas de Deus; como passagem em Jesus de uma vida “segundo a carne” à vida no Espírito; como efusão em plenitude do Espírito Santo como geração plena como Filho; e exaltação como Senhor enviado ao Mundo.
(VASCONCELOS, 2010, p. 4).
Na compreensão de Durrwell (1960), a ressurreição de Jesus é, antes de qualquer coisa, mistério da redenção operada por Deus em seu Filho e através de seu Espírito, portanto, uma atividade trinitária que atingiu não apenas o ser humano, mas toda a obra da criação, por isso, não pode ser concebida desconexa do mistério da encarnação e de sua paixão. É um transbordamento do Espírito Santo, “Senhor que dá a vida”, como o denomina o Credo niceno-constantinopolitano, em seu poder e glória que transformou a Cristo (lembre-se que o pentecostes é um evento pascal e coroamento desse mistério). A ressurreição fez de Jesus o Senhor, poderoso Filho Deus, o Sumo e eterno Sacerdote do Altíssimo (Carta aos Hebreus), pois a ele foram dados o domínio universal, o senhorio do mundo e dos Anjos e o poder de vir novamente. Foi a experiência com o Ressuscitado, defende Durrwell, que possibilitou o nascimento de uma Igreja viva, animada pela esperança nessa vida nova, isto é, no Espírito, numa consciência e conduta baseadas na fé.
Os Evangelhos não procuram fazer uma “propaganda”, muito menos um sistema a respeito da ressurreição, “os próprios apóstolos não são sábios, pretendem apenas ser testemunhas (…) viram fatos e viveram uma realidade nova. Eles afirmam tais fatos, exprimem esta realidade” (DURRWELL, 1969, p. 3). Para os discípulos, era uma certeza que viviam, não importando se os outros acreditassem. Na cultura judaica, costumava-se não acreditar no testemunho de uma mulher, mas curiosamente, quem primeiro levou o estandarte dessa boa nova foi Maria Madalena, que ajudou a transformar aquele jardim em um novo Éden, diante do novo homem ou novo Adão, o Filho do Homem, vencedor da morte e do pecado, por isso ressuscitado.
Antes e depois de Jesus, sempre existiram pessoas se autointitulando “messias”, a questão é que o messianismo de Jesus foi inédito e o mais convincente, exatamente por essa grande eventualidade que marcou decisivamente a história e os rumos do mundo. Em nenhuma outra religião, com todo respeito e admiração às demais crenças, um deus foi capaz de amar o ser humano enfrentando o terror por ele, indo até às últimas consequências, assumindo sua condição. Não diferente, o preço da fé na ressurreição durante os primeiros séculos foi o martírio dos apóstolos e discípulos, uma verdade transverberada que testemunhavam até as últimas consequências, e só por isso estamos aqui hoje exprimindo nossa fé.
Todo o Novo Testamento foi escrito à luz dessa experiência – curiosamente, o Novo Testamento menciona pouquíssimo e Encarnação – o que nos deu a certeza de que a ressurreição não é uma realidade pós-morte, mas um aqui e agora, como repetia o padre Caetano Minette de Tillesse: “ressurreição é deixar Deus fazer o projeto Dele em nós”. Com essa linguagem, Deus quer comunicar que a morte não é sua última palavra para o homem. Destruindo o último inimigo, isto é, a morte (1Cor 15,26), Jesus proclama a vitória de Deus sobre o pecado e toda espécie de maldade, por isso, a ressurreição é um mistério da redenção operada na pessoa de Jesus e inseparável ao mistério da Cruz.
A ressurreição de Cristo é demonstração da nossa, por isso Ele não apenas ressuscitou, é também ressuscitante, está mais vivo e poderosamente presente hoje do que em seu tempo, pois não mais se encontra dependente das condições temporais, fazendo acontecer o mesmo naqueles que acreditam. “Na história da espiritualidade da Igreja, a tomada de consciência do mistério pascal será, sem dúvida, o maior acontecimento de nossos tempos” (DURRWELL, 1969, p. 2). A fé na ressurreição continua questão decisiva, isto é, de vida ou morte, para a sobrevivência do cristianismo nos dias de hoje.
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Bibliografia consultada
- BENTO XVI. Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini. São Paulo: Paulinas, 2010.
- BÍBLIA DE JERUSALÉM. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 2004.
- CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, edição típica vaticana. São Paulo: Paulinas, Loyola, 2000.
- DURRWELL, François-Xavier. A ressurreição de Jesus. São Paulo: Herder, 1969.
- ______. The Ressurrection: A Biblical Study. New York: Sheed and Ward, 1960 (tradução nossa).
- EICHER, Peter. Dicionário de conceitos fundamentais de teologia. 2ª ed; tradução João Rezende Costa. São Paulo: Paulus, 2005 [verbete ressurreição].
- KIRST, Nelson. Et al. Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português. Petrópolis: Sinodal: Vozes, 1998.
- TOMAZ, Eugénia. A lógica do amor humano no novo modo de ser corpo. Jornal L’Osservatore Romano, Lisboa, p. 6-7, n. 30, jul. 2011.
- VASCONCELOS, Rui Pedro Rodrigues. A compreensão do Mistério Pascal segundo o pensamento de F.X. Durrwell. 2010. 89 fls (dissertação de mestrado). Porto: Universidade Católica Portuguesa, 2010.
- VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Antropologia Filosófica I. Loyola: São Paulo, 1991.
- Veritatis Splendor. Jesus segundo o historiador judeu Flávio Josefo. Disponível em <https://www.veritatis.com.br/jesus-segundo-o-historiador-judeu-flavio-josefo/>. Acesso em 12/04/20.