O substantivo feminino ruach (רוּחַ) aparece 389 vezes no Antigo Testamento. Desse total, 378 vezes em texto hebraico e 11 vezes em aramaico. Mas maioria das vezes se refere a Deus, num total de 136 vezes. Em segundo lugar, designa uma força da natureza, o vento, em 113 casos. E, por fim, 129 vezes se refere a uma força vital ligada a seres humanos e animais e inexistente nos falsos deuses.
1. FORÇA VITAL: antes de tudo indica a respiração. “Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz: que dá fôlego [neshamah] de vida ao povo que nela está e o espírito [ruach] aos que caminham sobre ela” (Is 42,5). O Senhor molda a ruach no interior do ser humano, não há esse sopro no interior dos ídolos de madeira ou pedra, ou seja, não há força vital que os possa despertar e os fazer levantar-se (Hab 2,19). Somente e depois que o Senhor dá a ruach os corpos tornam-se vivos e sem ela morrem. A vida e a morte dependem da ruach;
2. Uma força da natureza: o VENTO. A palavra ruach não significa o ar como tal, mas o ar em movimento. Em Gênesis 1,2 ela sopra sobre as águas, à maneira da águia que suspende-se nos ares (Dt 32,11). O termo hebraico merachefet, comumente trazido em nossas bíblias por “mover, agitar”, não possui tradução precisa, é usado para denotar os movimentos do bater de asas dos pássaros sobrevoando alguma coisa. Em segundo lugar, a ruach é brisa fresca em Gn 3,8, que no cair da tarde refresca o calor do meio dia e dá conforto aos cansados. Em terceiro lugar, é uma força que causa mudanças (Ex 14,21; Gn 8,1; Ez 13,13). Trata-se de um fenômeno poderoso do qual o Senhor pode dispor;
3. Designa o próprio DEUS: Como respiração do ser humano, não pode ser separada da ruach do Senhor. Mas a ruach do Senhor em sua totalidade, significa mais que o ar vivificador que se torna a respiração do ser humano: “Os céus foram criados pela palavra do Senhor, todo o seu exército pelo sopro [רוּחַ] de sua boca” (Sl 33,6). É usada como sinônimo de palavra, ato de força, que faz surgir outras capacidades como o artesanato em metais e madeiras para mobília do santuário (Ex 31,1-11; 35,31). Os profetas são conhecidos como homens da ruach do Senhor (Os 9,7; Is 42,1).
Esses termos são difíceis de traduzir, o que leva a maioria dos tradutores a um longo labor. Há neles uma profundidade teológica e espiritual que escapa ao nosso limitado entendimento. Alguns entendem como se o trono de Deus se movesse nas águas, por sua ordem, através de um alento (ruach) para dar vida à matéria inanimada (Gn 2,7; Is 45,2), ou ainda, compreendem esse “sopro” divino como “espírito de misericórdia”, a atmosfera de Deus que possibilita a vida do ser humano (Gn 6,3) e de todos os demais seres (Sl 104,30). Em Gênesis 1,2 ele é entendido como um “vento violento”, que causa instabilidade àquilo que era estático. Nessa mesma perspectiva está a teofania do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2,1-13, sobretudo v. 2), manifestado em meio a um vendaval e em línguas de fogo, ao mesmo tempo que alenta, “sacode”.
Bibliografia consultada:
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2004.
WOLFF, H.W. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 66-67.
TORÁ: A Lei de Moisés. São Paulo: Sêfer, 2001.