O termo “teologia” nos veio do grego: θεολογία, junção dos substantivos Theos (Deus) + logos (palavra, verbo, expressão, saber). Então, teologia seria o estudo sobre Deus? De antemão respondemos que não. Mas poderia ser a tentativa de dizer uma palavra sobre Ele.
Deus não se estuda. Não dá para colocá-lo num microscópio ou entrevistá-lo: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55,8-9). Sua transcendência só poderá ser tocada mediante a experiência da fé, e esta mesma fé nunca é atingida pelo mero esforço humano senão por sua graça que incessantemente busca Sua Criatura. Não somos nós quem o buscamos, é Ele quem nos procura desde sempre. Diante de sua presença cabe-nos responder, negar ou ignorar. Mas teremos que conviver e nos deparar com a palavra Deus, porque o ser humano é, por natureza e vocação, homo religiosus, como diria Viktor Frankl.
Na teologia não se busca aprofundar, imediatamente, a natureza divina, mas antes sua revelação, ou seja, o rastro de Deus na história humana, ou os atos desse Deus que se revelou a Abraão por sua voz (cf. Gn 12) ou a Moisés “pelas costas” (cf. Ex 3). Como se vê, Deus se revela, mas não se desvela totalmente. Ele continua sendo mistério, mas não se reduz a essa instância, é mais que sublime: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?” (Rm 11,33-34), se se busca nas alturas, na profundidade, na imensidão, ainda poderemos racionalmente nos decepcionar: “Mas, a mim, que difíceis são teus projetos, Deus meu, como sua soma é grande! Se os conto… são mais numerosos que areia! E, se termino, ainda estou contigo!” (Sl 139,18-18,). Foi a teologia cristã que procurou apresentar a Cristo como revelação de Deus por excelência, a partir do momento que o logos (Verbo) se encarnou. Jesus facilitou o caminho a Deus, mas como Ele assegurou, ninguém iria ao Pai senão por Ele (cf. Jo 14,6). O caminho para Deus é um caminho de Deus.
A fé é que revela (“tira o véu”), mas o termo revelação é estranho à filosofia, que tem dificuldade de refletir algo que não pode ser verificável ou traduzido, daí a dificuldade muitas vezes de fazê-lo entender através de conceitos e esquemas filosóficos inequívocos. Na Bíblia, Deus não é ideia, é pessoa viva, e mesmo as categorias com que a Escolástica tentou traduzir Deus ainda são muito vagas, exaustivas e nem sempre paralelas aos termos bíblicos mais simples e cheios de sentido teológico. Infelizmente, quanto pretendemos dar respostas a tudo e a todos, na tentativa de fazer uma “apologia” (defesa) da fé, podemos tanto iluminar quanto confundir a fé alheia, enquanto a nossa permanece na penumbra, vazia de experiência, meramente ato humano.
Para o judeu não existe algo mais simples que a fé na presença de Deus. Não se trata de afirmação, mas de uma constatação que Ele acolhe: “Provai, e vede que o Senhor é bom” (Sl 34,8). O verbo hebraico daat (דעת), aqui empregado no salmo, significa experimentar, constatar, tirar a prova, justificar. É um convite à essa realidade que nos envolve. Portanto, a filosofia começa com perguntas, a teologia tem as respostas de antemão sobre as questões fundamentais do homem, de seu Criador e do universo, cabe ao homem acolher este dom e se esforçar para respondê-lo.
Deus: uns temem perdê-lo. Outros encontrá-lo.