São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja

Eusébio Sofrônio Jerônimo nasceu em Estridão, hoje Dalmácia, por volta de 340-7. O nome Jerônimo significa “que tem um nome sagrado”. Depois de ter estudado em Roma, onde foi batizado, viajou para a Gália, depois foi viver como eremita na Síria, onde estudou hebraico e foi ordenado padre. Conta-se que obteve amizade de um rabino, com quem aprendeu essa língua bíblica às noites e escondido, pois na época judeus e cristãos tinha uma ácida relação por motivos religiosos e políticos.

De volta à Roma, foi contratado como secretário pelo Papa Dâmaso a fim de traduzir a Bíblia para o latim, pois até então tínhamos apenas uma difícil tradução conhecida como Vetus Latina. Por esse motivo, alguns artistas tem representado-o com vestes cardinalícias, mas é preciso salientar que o “sacro colégio” dos cardeais só foi instituído em 1059 sob o pontificado de Eugênio III, embora o título tenha surgido no pontificado de Silvestre I (314-335).

São Jerônimo por Lucas Cranach the Elder, 1525.

Quando em Roma, criou um grupo de discípulas a quem formou pessoalmente, dentre elas destacam-se nomes de damas patrícias ilustres, as mais conhecidas são Paula, Marcela e Eustáquia, o que lhe custou polêmicas e perseguições do clero, mas que depois foram canonizadas. Para o espírito patriarcalista e machista da época, Jerônimo nos aparece como um grande incentivador do protagonismo cristão feminino, já que a formação intelectual era um grande privilégio viril e elitista.

É contemporâneo a grandes santos, como Santo Agostinho (354-430-1), com quem trocava algumas cartas para lhe tirar as dúvidas em torno de temas bíblicos e teológicos. O tom helenístico com que escrevia, permitiu com que muitos atribuíssem a Jerônimo a fama de “irado” ou “nervoso”, mas não se pode excluir desse horizonte sua evidente e eloquente formação retórica que adquiriu em Roma. Entre Agostinho e Jerônimo houve uma verdadeira disputatio (disputa) teológica, mas sempre em um clima de caridade, “amizade” e “ofício”. Esse gênero epistolar servia aos autores cristãos como forma de vencer seus adversários. Quanto a seu temperamento difícil e irônico, que ele mesmo reconhecia e lhe custava duras penitências, nada impede de transparecer em seus escritos.

Em 385, após morte de seu patrono, Papa Dâmaso, e perseguições do clero romano, voltou para a Palestina e se estabeleceu em Belém, onde passou o resto de sua vida dedicando-se à penitência e oração. Daí a grande representação do santo em diversos museus do mundo como um ancião que bate o peito com uma pedra ou com um velho leão ao lado, que segundo uma tradição antiga lhe fazia companhia. Uma de suas traduções da Bíblia, chamada Vulgata, do latim vulgare (popular), ainda está oficialmente em uso na Igreja e foi a versão oficial da instituição por cerca de 1.500 anos. Suas imensas obras escriturísticas lhe valeram o título de “Doutor Máximo” em 1298 pelo Papa Bonifácio VIII. Morreu em 30 de Setembro de 420.

Por esse motivo, aqui no Brasil se celebra setembro como o mês bíblico e o dia 30 como “Dia da Bíblia”, também dedicado aos estudiosos e estudiosas da Sagrada Escritura, exegetas (cientistas da Bíblia) e dia do(a) secretário(a). Tudo começou com a comemoração dos 50 anos de criação da Arquidiocese de Belo Horizonte, celebrada em 1971 e que, posteriormente, foi se estendendo a todo o país, como também em outros países da América Latina e África. “Ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo”, afirmava esse Doctor Maximum, por isso é preciso suscitar em nosso país uma “geração bíblica”, um povo que leia, estude, viva a Palavra. Vale ainda essa sua reflexão:

Como o corpo morre se não se alimenta, assim também o coração: se não se alimenta no Espírito, acaba por morrer. Alguns chegam a dizer: eu não tenho necessidade da Sagrada Escritura. Temer a Deus não basta. É para estes que é preciso dizer: assim como há alimentos para o corpo, há também para o coração. São as Sagradas Escrituras.

Tenhamos fome de Cristo e Ele nos dará o pão do céu. O pão de Cristo e sua carne são a Palavra de Deus e o seu ensinamento. Leiamos as Santas Escrituras. Eu penso que o Corpo de Cristo é o Evangelho e que seus ensinamentos são as Santas Escrituras.

Quando, pois Jesus, diz: Quem não come a minha carne e não bebe o meu sangue não tem a vida, podemos certamente entender que Ele está falando da Eucaristia.

Mas é certo igualmente que o Corpo de Cristo e seu sangue são a Palavra das Escrituras, seu divino ensinamento. Quando participamos da eucaristia, tomamos cuidado para que nenhuma migalha se perca. Quando ouvimos a Palavra de Deus, quando a Palavra de Deus é dada aos nossos ouvidos e nós, então, ficamos pensando em outras coisas, que cuidado tomamos?

Leiamos, pois, as Santas Escrituras! Dia e noite cavemos cada sílaba. Alimentemo-nos da carne de Cristo, que não somente na Eucaristia, mas na leitura das Escrituras. A palavra de Deus que nos alimenta é o estudo das Escrituras.

(São Jerônimo em Comentário ao livro do Eclesiastes).

São Jerônimo deu à figura do monge e aos cristãos(ãs) uma entonação erudita e espírito de oração para nos mostrar que o conhecimento se alimenta da contemplação. Portanto, uma fé amadurecida requer esses dois elementos, que não são contraditórios, mas inseparáveis. O que nós estudamos e rezamos é carisma para o mundo. Contemplemos e estudemos a Palavra de Deus!

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *